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sábado, 13 de setembro de 2014

Roteiro (A cartomante – Machado de Assis) 2° ano B Matutino
                 A cartomante – Machado de Assis
Personagens: 
Narrador / Rita (esposa) / Vilela (marido) / Camilo (amante) / Cartomante

—NARRADOR: Há mais cousas no céu e na terra do que sonha a nossa filosofia. Era a mesma explicação que dava a bela Rita ao moço Camilo, numa sexta-feira de Novembro de 1869, quando ele ria dela, por ter ido à dia anterior consultar uma cartomante, a diferença é que o fazia por outras palavras.

— RITA: Os homens são assim; não acreditam em nada. Pois saiba que fui, e que ela adivinhou o motivo da consulta, antes mesmo que eu lhe dissesse o que era. Apenas começou a botar as cartas, disse-me: "A senhora gosta de uma pessoa..." Confessei que sim, e então ela continuou a botar as cartas, combinou-as, e no fim declarou-me que eu tinha medo de que você me esquecesse, mas que não era verdade...

 — CAMILO (interrompeu, rindo e fazendo pouco caso): Errou!

— RITA: Não diga isso Camilo, Se você soubesse como eu tenho andado, por sua causa. Já lhe disse. Não ria de mim, não ria...

 — NARRADOR: Camilo pegou na sua mão, e olhou para ela sério e fixo. Jurou que lhe queria muito. Depois, disse-lhe que era imprudente andar por essas casas. Vilela podia sabê-lo, e depois...

— CAMILO: quero-te muito e os seus sustos parece de criança, em todo o caso, quando tivesse algum receio, a melhor cartomante a procurar sou eu mesmo. É arriscado andar por essas casas. Vilela podia saber, e depois...

 — RITA: Qual saber! Tive muita cautela, ao entrar na casa.

 — CAMILO: Onde é a casa?

— RITA: Aqui perto, na Rua da Guarda Velha; não passava ninguém. Não sou maluca.
— CAMILO: Tu crês nessas coisas?

 — NARRADOR: Foi então que ela, disse-lhe que havia muitas cousas misteriosas e verdadeiras neste mundo. Se ele não acreditava, paciência; mas o certo é que a cartomante adivinhou tudo. A prova é que ela agora estava tranquila e satisfeita.

 — RITA: Ah muitas cousas misteriosas e verdadeiras neste mundo. Agora estou tranquila e satisfeita, pois a cartomante adivinhou tudo e tudo vai dar certo.

 — NARRADOR: Camilo ia falar, mas reprimiu-se, Não queria arrancar-lhe as ilusões. Também ele, em criança, e ainda depois, foi supersticioso, teve um inteiro de crendices, que a mãe lhe incutiu e que aos vinte anos desapareceram. Camilo não acreditava em nada. Por quê? Não poderia dizê-lo, não possuía um só argumento; limitava-se a negar tudo. E digo mal, porque negar é ainda afirmar, e ele não formulava a incredulidade; diante do mistério, contentou-se em levantar os ombros, e foi andando. Separaram-se contentes, ele ainda mais que ela. Rita estava certa de ser amada. Camilo, não só o estava, mas via-a estremecer e arriscar-se por ele, correr às cartomantes, e, por mais que a repreendesse, não podia deixar de sentir-se lisonjeado. A casa do encontro era na antiga Rua dos Barbonos, onde morava uma comprovinciana de Rita. Esta desceu pela Rua das Mangueiras, na direção de Botafogo, onde residia; Camilo desceu pela da Guarda velha, olhando de passagem para a casa da cartomante. Vilela, Camilo e Rita, três nomes, uma aventura, e nenhuma explicação das origens. Vamos a ela. Os dois primeiros eram amigos de infância. Vilela seguiu a carreira de magistrado. Camilo entrou no funcionalismo, contra a vontade do pai, que queria vê-lo médico; mas o pai morreu, e Camilo preferiu não ser nada, até que a mãe lhe arranjou um emprego público. No princípio de 1869, voltou Vilela da província, onde casara com uma dama formosa e tonta; abandonou a magistratura e veio abrir banca de advogado. Camilo arranjou-lhe casa para os lados de Botafogo, e foi a bordo recebê-lo.

 — CAMILO: É o senhor? Exclamou Rita (estendendo-lhe a mão, não imagina como meu marido é seu amigo, falava sempre do senhor)

— NARRADOR: Camilo e Vilela olharam-se com ternura. Eram amigos. Depois, Camilo confessou que a mulher do Vilela não desmentia as cartas do marido. Realmente, era graciosa, era um pouco mais velha que ambos: contava trinta anos, Vilela vinte e nove e Camilo vente e seis. Entretanto, o porte grave de Vilela fazia-o parecer mais velho que a mulher, enquanto Camilo era um ingênuo na vida moral e prática. Uniram-se os três. Convivência trouxe intimidade, Pouco depois morreu a mãe de Camilo, e nesse desastre, que o foi, os dois mostraram-se grandes amigos dele. Vilela cuidou do enterro, dos sufrágios e do inventário; Rita tratou especialmente do coração, e ninguém o faria melhor. Como daí chegaram ao amor, não o soube ele nunca. A verdade é que gostava de passar as horas ao lado dela; era a sua enfermeira moral, quase uma irmã, mas principalmente era mulher e bonita. Odor de femina: eis o que ele aspirava nela, e em volta dela, para incorporá-lo em si próprio. Liam os mesmos livros, iam juntos a teatros e passeios. Camilo ensinou-lhe as damas e o xadrez e jogavam às noites;

— ela, mal,

— ele, para lhe ser agradável, pouco menos mal. Até aí as cousas. Agora a ação da pessoa, os olhos teimosos de Rita, que procuravam muita vez os dele, que os consultavam antes de fazê-lo ao marido, as mãos frias, as atitudes insólitas. Um dia, fazendo ele anos, recebeu de Vilela uma rica bengala de presente, e de Rita apenas um cartão com um vulgar cumprimento a lápis, e foi então que ele pôde ler no próprio coração; não conseguia arrancar os olhos do bilhetinho. Palavras vulgares; mas há vulgaridades sublimes, ou, pelo menos, deleitosas.

 — VILELA: Tome meu amigo! Presente de aniversário...

 — RITA: Trago-lhe esse simples cartão como símbolo da nossa amizade.

 — NARRADOR: Camilo quis sinceramente fugir, mas já não pôde. Rita como uma serpente foi-se acercando dele, envolveu-o todo, fez-lhe estalar os ossos num espasmo, e pingou-lhe o veneno na boca. Ele ficou atordoado e subjugado. Vexame, sustos, remorsos, desejos, tudo sentiu de mistura; mas a batalha foi curta e a vitória delirante. Adeus, escrúpulos! Não tardou que o sapato se acomodasse ao pé, e aí foram ambos, estrada fora, braços dados, pisando folgadamente por cima de ervas e pedregulhos, sem padecer nada mais que algumas saudades, quando estavam ausentes um do outro. A confiança e estima de Vilela continuavam a ser as mesmas. Um dia, porém, recebeu Camilo uma carta anônima, que lhe chamava imoral e pérfido, e dizia que a aventura era sabida de todos. Camilo teve medo, e, para desviar as suspeitas, começou a rarear as visitas à casa de Vilela. Este notou-lhe as ausências. Camilo respondeu que o motivo era uma paixão frívola de rapaz. Candura gerou astúcia. As ausências prolongaram-se, e as visitas cessaram inteiramente. Pode ser que entrasse também nisso um pouco de amor-próprio, uma intenção de diminuir os obséquios do marido, para tornar menos dura a aleivosia do ato. Foi por esse tempo que Rita, desconfiada e medrosa, correu à cartomante para consultá-la sobre a verdadeira causa do procedimento de Camilo. Vimos que a cartomante restituiu-lhe a confiança, e que o rapaz repreendeu-a por ter feito o que fez. Correram ainda algumas semanas. Camilo recebeu mais duas ou três cartas anônimas, tão apaixonadas, que não podiam ser advertência da virtude, mas despeito de algum pretendente; tal foi a opinião de Rita, que, por outras palavras mal compostas, formulou este pensamento:

 — CAMILO: A virtude é preguiçosa e avara, não gasta tempo nem papel; só o interesse é ativo e pródigo.

— NARRADOR: Nem por isso Camilo ficou mais sossegado; temia que o anônimo fosse ter com Vilela, e a catástrofe viria então sem remédio. Rita concordou que era possível.

 — RITA: Bem, eu levo os sobrescritos para comparar a letra com a das cartas que lá aparecerem; se alguma for igual, guardo-a e rasgo-a...

 — NARRADOR: Nenhuma apareceu; mas daí a algum tempo Vilela começou a mostrar-se sombrio, falando pouco, como desconfiado. Rita deu-se pressa em dizê-lo ao outro, e sobre isso deliberaram. A opinião dela é que Camilo devia tornar a casa deles, tatear o marido, e pode ser até que lhe ouvisse a confidência de algum negócio particular. Camilo divergia; aparecer depois de tantos meses era confirmar a suspeita ou denúncia. Mais valia acautelarem-se, sacrificando-se por algumas semanas. Combinaram os meios de se corresponderem, em caso de necessidade, e separaram-se com lágrimas. No dia seguinte, estando na repartição, recebeu Camilo este bilhete de Vilela: "Vem já, já, à nossa casa; preciso falar-te sem demora." Era mais de meio-dia. Camilo saiu logo; na rua, advertiu que teria sido mais natural chamá-lo ao escritório; por que em casa? Tudo indicava matéria especial, e a letra, fosse realidade ou ilusão, afigurou-se lhe trêmula. Ele combinou todas essas cousas com a notícia da véspera.

—VILELA: Vem já, já, à minha casa; preciso falar-te sem demora.

— NARRADOR: Ao chegar à casa Camilo fala com Vilela.

 —CAMILO: Desculpa, não pude vir mais cedo, o que há?

— NARRADOR: Vilela não lhe respondeu; tinha as feições decompostas; fez-lhe sinal, e foram para uma saleta interior. Entrando, Camilo não pôde sufocar um grito de terror:

 — ao fundo sobre o canapé, estava Rita morta e ensanguentada. Vilela pegou-o pela gola, e, com dois tiros de revólver, estirou-o morto no chão.


Componentes: Alana Alves; Ariane Oliveira; Alisson Batista; Eurismille Cruz; Joyce Costa; Larissa Araújo

OBS: Este roteiro ainda poderá passar por mudanças.

3 comentários:

  1. Parabéns meninas! Está ótimo! Eu só senti falta de uma separação das cenas, sabe? Algo como: cena 1, cena 2...
    Vocês vão atuar mesmo ou vão fazer de outro jeito? Estou ansiosa... ;)

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    1. Obrigada Maria! Vamos sim, separar as cenas, é porque colocamos OBS: Este roteiro ainda poderá passar por mudanças. Obrigada por dá opinião! Vlw
      (Alana Alves)

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  2. Parece que vcs separam o conto em partes e apenas especificaram que era o narrador e as falas de Rita e Camilo. Como Maria Cristina falou, deveriam ter separado a cenas, deveriam ter feito a descrição do que aconteceria nos diálogos... Deixaram um pouco a desejar...

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