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domingo, 14 de setembro de 2014

O Alienista - 2º C Mat.


O doutor Simão Bacamarte, médico renomado em diversas partes do mundo, decide voltar ao Brasil para a vila de Itaguaí. Lá, aos quarenta anos de idade casa-se com a viúva dona Evarista, mulher de vinte e cinco anos, sem simpatia e tampouco portadora de grande beleza, pois a julgava capaz de gerar bons filhos.
Porém, quando isso não acontece ele acaba optando pelo estudo da ciência como formar de “maquiar” a sua decepção. O doutor Bacamarte se interessa pela neurologia e passa a estudar a sanidade humana.
Em Itaguaí, depois de certo tempo, o doutor inaugura um asilo com o nome de “Casa Verde”, onde os loucos seriam tratados. Porém o que era para ser um “centro de tratamento” acaba em “terror”, pois Simão Bacamarte começa a internar pessoas sem nenhum tipo de problema...
Ficou curioso para saber o resto da estória?
Então não perca a oportunidade de ler o roteiro completo logo abaixo...


O Alienista
Adaptação: Withiana Barros

Personagens:

Dr. Simão Bacamarte, o protagonista.
D. Evarista, esposa do doutor.
Crispim Soares, o boticário.
Porfírio, o barbeiro.
Padre Lopes, o vigário local.
Sr. Costa e outros figurantes.

Cena 1: INT. Casa do Boticário / Sala.
Narrador:
As crônicas da vila de Itaguaí dizem que em tempos remotos vivera ali certo médico, o Dr. Simão Bacamarte, filho da nobreza da terra e o maior dos médicos do Brasil, de Portugal e das Espanhas.
Aos trinta e quatro anos regressou ao Brasil. Feito isso, meteu-se em Itaguaí, e entregou-se de corpo e alma ao estudo da ciência.
Aos quarenta anos casou com D. Evarista da Costa e Mascarenhas, senhora de vinte e cinco anos, viúva de um juiz de fora, pois a julgava capaz de dar-lhe filhos robustos e mofinos, porém isso não aconteceu.
Muito decepcionado com o fato de sua mulher não poder ter filhos, o Dr. Simão Bacamarte se dedicou à neurologia, estudando assim a sanidade humana.
Dr. Bacamarte:
—A saúde da alma, bradou ele, é a ocupação mais digna do médico.
O boticário:
—Do verdadeiro médico...
Cena 2: INT. Casa Verde / Inauguração.
Narrador:
O doutor Simão Bacamarte, interessado em cuidar dos loucos de Itaguaí, pediu licença ao governo para construir um asilo onde os loucos se instalariam e seriam tratados, favorecendo também o estudo da tal doença.
A Casa Verde foi o nome dado ao asilo, por alusão à cor das janelas. Inaugurou-se com imensa pompa; de todas as vilas e povoações próximas, e até remotas, e da própria cidade do Rio de Janeiro, correu gente para assistir às cerimônias, que duraram sete dias. Muitos dementes já estavam recolhidos; e os parentes tiveram ocasião de ver o carinho paternal e a caridade cristã com que eles iam ser tratados. D. Evarista, contentíssima com a glória do marido, vestira-se luxuosamente, cobriu-se de joias, flores e sedas. Ela foi uma verdadeira rainha naqueles dias memoráveis.
(Pessoas felizes, comemorando e cortejando D. Evarista)
Cena 3: Ext. Casa Verde
Narrador:
Três dias depois, numa expansão íntima com o boticário Crispim Soares, desvendou o alienista o mistério do seu coração.
Dr. Bacamarte:
—A caridade, Sr. Soares, entra decerto no meu procedimento, mas entra como tempero, como o sal das coisas, que é assim que interpreto o dito de São Paulo aos Coríntios: "Se eu conhecer quanto se pode saber, e não tiver caridade, não sou nada". O principal nesta minha obra da Casa Verde é estudar profundamente a loucura, os seus diversos graus, classificar-lhe os casos, descobrir enfim a causa do fenômeno e o remédio universal. Este é o mistério do meu coração. Creio que com isto presto um bom serviço à humanidade.
O boticário:
—Um excelente serviço.
Dr. Bacamarte:
—Sem este asilo, continuou o alienista, pouco poderia fazer; ele dá-me, porém, muito maior campo aos meus estudos.
Narrador:
E tinha razão. De todas as vilas e arraiais vizinhos afluíam loucos à Casa Verde. Eram furiosos, eram mansos, eram monomaníacos, era toda a família dos deserdados do espírito. Ao cabo de quatro meses, a Casa Verde era uma povoação. O Padre Lopes confessou que não imaginara a existência de tantos doidos no mundo, e menos ainda o inexplicável de alguns casos.
Dr. Bacamarte:
—Não digo que não,  mas a verdade é o que Vossa Reverendíssima está vendo. Isto é todos os dias.
Padre Lopes:
— Quanto a mim, só se pode explicar pela confusão das línguas na torre de Babel, segundo nos conta a Escritura; provavelmente, confundidas antigamente as línguas, é fácil trocá-las agora, desde que a razão não trabalhe...
Dr. Bacamarte:
—Essa pode ser, com efeito, a explicação divina do fenômeno, mas não é impossível que haja também alguma razão humana, e puramente científica, e disso trato...
Padre Lopes:
—Vá que seja, e fico ansioso. Realmente!
Cena 4: INT. Casa do Dr. Bacamarte / Quarto
(Dona Evarista jogada na cama triste)
 Narrador:
Passaram-se dois meses e Dona Evarista caiu em profunda melancolia. O marido a fim de retira-la desse estado concedeu-lhe uma viagem ao Rio de Janeiro.
Dr. Bacamarte:
—Consinto que vás dar um passeio ao Rio de Janeiro.
D. Evarista:
 —Oh! Mas o dinheiro que será preciso gastar! 
Dr. Bacamarte:
—Que importa? Temos ganhado muito. Ainda ontem o escriturário prestou-me contas. Queres ver?
(Ambos vão a uma sala cheia de ouro)
Narrador:
Deus! Eram montes de ouro, eram mil cruzados sobre mil cruzados, dobrões sobre dobrões; era a opulência. 
Cena 5: EXT Rua
Narrador:
Três meses depois efetuava-se a jornada ao Rio de Janeiro. Acompanhando D. Evarista foi a tia e a mulher do boticário.
D. Evarista, sua Tia, mulher do boticário:
—Adeus!
(O boticário e Dr. Bacamarte dão tchau a elas.)
Cena 6: INT. Casa Verde / Escritório
Narrador:
Ao passo que D. Evarista, em lágrimas, vinha buscando o Rio de Janeiro, Simão Bacamarte estudava por todos os lados certa ideia arrojada e nova, própria a alargar as bases da psicologia.
Dr. Bacamarte:
—Suponho o espírito humano uma vasta concha, o meu fim, Sr. Soares, é ver se posso extrair a pérola, que é a razão; por outros termos, demarquemos definitivamente os limites da razão e da loucura. A razão é o perfeito equilíbrio de todas as faculdades; fora daí insânia, insânia e só insânia.
Padre Lopes:
—Com a definição atual, que é a de todos os tempos, a loucura e a razão estão perfeitamente delimitadas. Sabe-se onde uma acaba e onde a outra começa. Para que transpor a cerca?
(Dr. Bacamarte dá um ar de riso)
Dr. Bacamarte:
A ciência contentou-se em estender a mão à teologia, — com tal segurança, que a teologia não soube enfim se devia crer em si ou na outra. Itaguaí e o universo ficavam à beira de uma revolução.
Cena 7: EXT. Rua
Narrador:
Quatro dias depois, a população de Itaguaí ouviu consternada a notícia de que certo Costa fora recolhido à Casa Verde.
(Pessoas conversando)
—Impossível!
—Qual impossível! Foi recolhido hoje de manhã.
— Mas, na verdade, ele não merecia... Ainda em cima! Depois de tanto que ele fez...
Narrador:
O Sr. Costa tinha recebido uma herança que dava pra viver até o fim de sua vida, porém gastou-a toda emprestando dinheiro aos outros. Sua prima foi interceder por ele, porém acabou sendo presa também na Casa Verde.
(Prima de Costa implora para que ele fosse solto)
Cena 8: EXT. Rua
Narrador:
Nisto chegou do Rio de Janeiro a esposa do alienista, a tia, a mulher do Crispim Soares, e toda a mais comitiva.
D. Evarista era a esperança de Itaguaí; contava-se com ela para minorar o flagelo da Casa Verde.
(Evarista andando com Padre Lopes)
Padre Lopes:
—A propósito de Casa Verde, a senhora vem achá-la muito cheia de gente.
 D. Evarista:
—Sim?
 Padre Lopes:
—É verdade. Lá está o Mateus...
 D. Evarista:
—O albardeiro?
 Padre Lopes:
—O albardeiro; está o Costa, a prima do Costa, e Fulano, e Sicrano, e...
 D. Evarista:
—Tudo isso doido? 
 Padre Lopes:
—Ou quase doido.
D. Evarista:
—Meu Marido é um sábio, ele nunca recolheria alguém à casa verde sem que seja louco.
Cena 9: EXT. Casa do Dr. Bacamarte
Narrador:
No começo a vila de Itaguaí apoiava a ação do medico, porém os exageros que ele passou a cometer ocasionaram uma revolta popular. A “Rebelião das Canjicas” liderada pelo ambicioso barbeiro Porfírio.
(População revoltada)
—Devemos acabar com isto!
—Não pode continuar!
—Abaixo a tirania!
—Déspota! Violento! Golias!
—Abaixo a Casa Verde!
(Bacamarte sai da casa)
Dr. Bacamarte:
—Direi pouco, ou até não direi nada, se for preciso. Desejo saber primeiro o que pedis.
Porfírio:
—Não pedimos nada; ordenamos que a Casa Verde seja demolida, ou pelo menos despojada dos infelizes que lá estão.
Dr. Bacamarte:
 —Não entendo.
 Porfírio:
—Entendeis bem, tirano; queremos dar liberdade às vítimas do vosso ódio, capricho, ganância...
 Narrador:
O alienista sorriu, mas o sorriso desse grande homem não era coisa visível aos olhos da multidão;
Era uma contração leve de dois ou três músculos, nada mais. Sorriu e respondeu:
 Dr. Bacamarte:
—Meus senhores, a ciência é coisa séria, e merece ser tratada com seriedade. Não dou razão dos meus atos de alienista a ninguém, salvo aos mestres e a Deus. Se quereis emendar a administração da Casa Verde, estou pronto a ouvir-vos; mas se exigis que me negue a mim mesmo, não ganhareis nada. Poderia convidar alguns de vós, em comissão dos outros, a vir ver comigo os loucos reclusos; mas não o faço, porque seria dar-vos razão do meu sistema, o que não farei a leigos nem a rebeldes.
Narrador:
Dentro de cinco dias, o alienista meteu na Casa Verde cerca de cinquenta aclamadores do novo governo. O povo indignou-se. O governo, atarantado, não sabia reagir. João Pina, outro barbeiro, dizia abertamente nas ruas, que o Porfírio estava "vendido ao ouro de Simão Bacamarte", frase que congregou em torno de João Pina a gente mais resoluta da vila.
Cena 10: INT. Casa do Dr. Bacamarte
Narrador:
Certo dia D. Evarista estava em dúvida quanto ao colar que ela deveria usar e acabou sendo presa na casa verde sob a justificativa de que sofria de "mania sumptuaria", não incurável, e em todo caso digno de estudo.
Dr. Bacamarte:
—Conto pô-la boa dentro de seis semanas.
Cena 11
Narrador:
Depois de certo tempo, Simão Bacamarte chega à conclusão que quatro quintos da população internada tinham casos a repensar. Você pode imaginar o assombro da vila ao saber um dia, que os loucos da Casa Verde iriam todos ser postos na rua.
População:
—Todos?
—Todos.
—É impossível; alguns sim, mas todos...
—Todos. Assim o disse ele no ofício que mandou hoje de manhã à Câmara
Cena 12
Narrador:
O doutor inverte o critério de intervenção psiquiátrica e trancafia a minoria da população: os bondosos, os leais, os fiéis, os simples, os sinceros.
Ao cabo de cinco meses estavam alojadas umas dezoito pessoas; mas Simão Bacamarte não afrouxava; ia de rua em rua, de casa em casa, espreitando, interrogando, estudando; e quando colhia um enfermo, levava-o com a mesma alegria com que outrora os arrebanhava às dúzias.
Depois que o prazo estabelecido pelo governo se findou, foi dado a Simão Bacamarte mais seis meses para aplicação do tratamento. No fim de cinco meses e meio estava vazia a Casa Verde; todos curados!
Mas o doutor não estava satisfeito; alguma coisa lhe dizia que a teoria nova tinha em si mesma, outra e novíssima teoria.
Dr. Bacamarte:
— “Vejamos; vejamos se chego enfim à última verdade”.
Narrador:
E cavando por aí abaixo, eis o resultado a que chegou: os cérebros bem organizados que ele acabava de curar eram desequilibrados como os outros. Sim, dizia ele consigo, eu não posso ter a pretensão de haver-lhes incutido um sentimento ou uma faculdade nova; uma e outra coisa existiam no estado latente, mas existiam. 
Chegado a esta conclusão, o ilustre alienista teve duas sensações contrárias, uma de gozo, outra de abatimento. A de gozo foi por ver que, ao cabo de longas e pacientes investigações, constantes trabalhos, luta ingente com o povo, podia afirmar esta verdade: - não havia loucos em Itaguaí; Itaguaí não possuía um só mentecapto. Mas tão depressa esta ideia lhe refrescara a alma, outra apareceu que neutralizou o primeiro efeito; foi a ideia da dúvida. Pois quê! Itaguaí. Não possuiria um único cérebro concertado? Esta conclusão tão absoluta não seria por isso mesmo errônea, e não vinha, portanto, destruir o largo e majestoso edifício da nova doutrina psicológica?
Dr. Bacamarte:
—“ Sim, há de ser isso”.
Narrador:
Isso é isto. Simão Bacamarte achou em si os característicos do perfeito equilíbrio mental e moral; pareceu-lhe que possuía a sagacidade, a paciência, a perseverança, a tolerância, a veracidade, o vigor moral, a lealdade, todas as qualidades enfim que podem formar um acabado mentecapto. Duvidou logo, é certo, e chegou mesmo a concluir que era ilusão; mas, sendo homem prudente, resolveu convocar um conselho de amigos, a quem interrogou com franqueza. A opinião foi afirmativa.
Dr. Bacamarte:
—Nenhum defeito?
Assembleia:
—Nenhum.
Dr. Bacamarte:
—Nenhum vício?
Assembleia:
—Nada.
Dr. Bacamarte:
—Tudo perfeito?
Assembleia:
—Tudo. 
Dr. Bacamarte:
—Não, impossível. Digo que não sinto em mim essa superioridade que acabo de ver definir com tanta magnificência. A simpatia é que vos faz falar. Estudo-me e nada acho que justifique os excessos da vossa bondade.
Narrador:
A assembleia insistiu; o alienista resistiu; finalmente o Padre Lopes explicou tudo com este conceito digno de um observador:
Padre Lopes:
—Sabe a razão por que não vê as suas elevadas qualidades, que, aliás, todos nós admiramos? É porque tem ainda uma qualidade que realça as outras: - a modéstia.
Narrador:
Era decisivo. Simão Bacamarte curvou a cabeça, juntamente alegre e triste, e ainda mais alegre do que triste. Ato continuo, recolheu-se à Casa Verde. Em vão a mulher e os amigos lhe disseram que ficasse, que estava perfeitamente são e equilibrado: nem rogos nem sugestões nem lágrimas o detiveram um só instante.
Dr. Bacamarte:
—A questão é científica; trata-se de uma doutrina nova, cujo primeiro exemplo sou eu. Reúno em mim mesmo a teoria e a prática.
D. Evarista:
 —Simão! Simão! Meu amor!
(Chorando)
Narrador:
Mas o ilustre médico, com os olhos acesos da convicção científica, trancou os ouvidos à saudade da mulher, e brandamente a repeliu. Fechada a porta da Casa Verde, entregou-se ao estudo e à cura de si mesmo.
Dizem os cronistas que ele morreu dezessete meses depois, no mesmo estado em que entrou, sem ter podido alcançar nada. Alguns chegam ao ponto de conjeturar que nunca houve outro louco, além dele, em Itaguaí, mas esta opinião, fundada em um boato que correu desde que o alienista expirou, não tem outra prova senão o boato; e boato duvidoso, pois é atribuído ao Padre Lopes, que com tanto fogo realçara as qualidades do grande homem. Seja como for, efetuou-se o enterro com muita pompa e rara solenidade.

FIM



8 comentários:

  1. eu gostei muito desse roteiro , pois a descrição das cenas foi muito boa e as falas foram bem distribuídas entre os personagens . Mas, na minha opinião, se a linguagem fosse mais atual o texto se tornaria mas atrativo.
    Matheus Borges- 2 C

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  2. O roteiro de vocês estão ótimo, pois, está bem organizado, logo no início vem falando um pouco sobre o conto, um leve resumo. Dividiram as cenas de forma correta e explicaram passo á passo da fala do narrador e dos personagens.
    ( Alana Alves 2°B Matutino)

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  3. Gostei, achei legal mas cá entre nós esse Dr. era um tanto quanto louco não acham? Interna pessoas injustamente, a própria mulher a si mesmo...

    P.S. Esse padre é um tanto quanto fofoqueiro...

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  4. O texto foi muito bem escrito, de fato. Mas acredito que se fosse adaptado a uma linguagem mais próxima à atual, já que vcs tinham essa liberdade, a leitura seria mais ágil. Vamos ao filme, para visualizar as "loucuras" desse doutor...

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  5. Boa noite. Gostaria de saber se podemos fazer uma adaptação e radionovela do texto. Grato. Entrar em contato pelo e-mail ecmalucosbeleza@gmail.com

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