1º Ato
Narrador: “Há mais coisas no céu e na terra do que sonha a nossa filosofia”, já dizia Shakespeare. E era a mesma explicação que dava a bela Rita ao moço Camilo, numa sexta-feira de novembro 1869, quando este ria dela, por ter ido, na véspera a procura de uma cartomante.
(Rita e Camilo caminham pela rua)
Rita diz: Porque vocês são assim? Incrédulos! Pois saiba que fui, e ela adivinhou o motivo de minha consulta. Começou a por as cartas e disse: "A senhora gosta de um jovem..." Confessei que sim, e então ela continuou, pôs as cartas, as combinou, e por fim declarou que eu tinha medo de que você me esquecesse, mas que não era verdade...
Camilo diz: Errou! (rindo)
Rita diz: Não seja tolo Camilo, se soubesse como tenho andado, e por sua culpa! Não ria de mim.
Camilo pega as mãos de Rita, e olha sério fixamente para ela.
Camilo diz: Quero-te, Rita, e quando estiver aflita não precisa freqüentar a cartomante alguma, pois tens a mim. Além do mais, é imprudente, Vilela pode saber...
Rita diz: Não se preocupe, tive muita cautela para entrar lá. E não passara ninguém pela rua na ocasião.
Camilo diz: Crê mesmo nestas coisas?
Rita diz: Sim, disse-me que há muita coisa misteriosa e verdadeira neste mundo.
Camilo diz: Citar Shakespeare de forma vulgar é tudo que ela sabe fazer? (risos)
Narrador: Camilo não acreditava em nada. Porque não podia dizê-lo, não possuía um só argumento: limitava-se a negar tudo. Porque negar é ainda afirmar, e ele não formulava a incredulidade.
(Camilo levanta os ombros e continua a andar. Logo caminham em direções opostas, ambos sorrindo)
2º Ato
Narrador: Vilela e Camilo eram amigos de infância. Vilela seguiu a carreira de magistrado. E Camilo entrou no funcionalismo, até que sua mãe lhe arranjou um emprego público. No inicio de 1869, Vilela voltou para sua cidade natal, onde casara com uma moça bela e tonta; abandonou a magistratura e veio abrir banca de advogado. Camilo arranjou-lhe casa para os lados de Botafogo.
(Vilela e Rita chegam ao encontro de Camilo na casa que este lhe arranjara.)
Rita diz: É o senhor? (estende-lhe a mão) Não imagina o quanto meu marido fala bem de ti.
(Camilo olha para Rita fixamente. Encantado com tamanha beleza)
(Logo Vilela e Camilo conversam entre si, enquanto fala o narrador)
3º Ato
Narrador: Uniram-se os três. Convivência trouxe intimidade. Pouco depois morreu a mãe de Camilo, e nesse desastre, que o foi, os dois mostraram-se grandes amigos dele. Vilela cuidou do enterro, dos sufrágios e do inventário; Rita tratou especialmente do coração, e ninguém o faria melhor. Camilo usava a tristeza como pretexto para visitar Rita, dia após dia, e como surpresa inevitável, fora lhe despertado o amor recíproco.
(Na cena, Camilo e Rita juntos a mesa, tomando chá enquanto conversam sobre romances)
4º Ato
(A porta bate, Camilo levanta de sua poltrona, para receber uma misteriosa carta por de baixo da porta)
Camilo (lendo a carta em voz alta): Indigno, imoral, pérfido! Todos sabem de suas aventuras com a mulher de teu quase irmão!
(Camilo, pálido, permanece com face apavorada)
Narrador: Amedrontado, Camilo decide tornar esporádicas suas visitas a casa de Vilela. Este notou as ausências. Camilo respondeu que o motivo era uma paixão frívola de rapaz. Candura gerou astúcia. As ausências prolongaram-se, e as visitas cessaram inteiramente. Pode ser que entrasse também nisso um pouco de amor-próprio, uma intenção de diminuir os obséquios do marido, para tornar menos dura à aleivosia do ato.
5º Ato
Rita diz: Será que fiz algo errado? Será que Camilo me esqueceu? Ó céus, o que devo fazer? (caminha de um lado para o outro, perdida em seus pensamentos, e sai depressa logo em seguida, em busca da cartomante)
Narrador: Vimos que a cartomante restituiu-lhe a confiança, e que o rapaz repreendeu-a por ter feito o que fez. Correram ainda algumas semanas. Camilo recebeu mais duas ou três cartas anônimas, tão apaixonadas, que não podiam ser advertência da virtude, mas despeito de algum pretendente; tal foi a opinião de Rita, que, por outras palavras mal compostas, formulou este pensamento: - a virtude é preguiçosa e avara, não gasta tempo nem papel; só o interesse é ativo e pródigo.
(Camilo e Rita, um frente ao outro, sentados na cama)
Camilo diz: Estou deveras preocupado, mal posso imaginar as conseqüências de nossos atos!
Rita diz: Irei levar as cartas, para comparar as letras, se alguma for igual, rasgo-a.
6º Ato
Narrador: O tempo passara, e Vilela começou a mostrar-se sombrio, falando pouco, desconfiado. E Camilo recebe um bilhete de Vilela, ainda na repartição.
Camilo (lê em voz alta): "Vem já, já, à nossa casa; preciso falar-te sem demora." O que diabos ele está pretendendo?
(Camilo procura por Rita, e não a encontra.)
Narrador: Confuso e inquieto, amedrontado com a reação de Vilela. Camilo decide procurar a cartomante...
(A Cartomante o leva para um cenário sombrio, onde o convida a sentar. Voltou três cartas sobre a mesa.)
Cartomante: Vejamos primeiro o que é que o trás aqui. O senhor tem um grande susto...
(Camilo balança a cabeça)
Cartomante: E quer saber se irá lhe acontecer alguma coisa, ou não?
Camilo diz: A mim e a ela.
(A cartomante pegou outra vez das cartas e baralhou-as)
Cartomante diz: As cartas me dizem... que nada acontecerá a nenhum dos dois. Mas seria indispensável cautela neste momento, pois existem muitos despeitados por aí.
Camilo diz: Obrigada! A senhora me recobrou a paz de espírito!
(A Cartomante levanta-se rindo)
Cartomante: Vá tranqüilo!
Ato final
(Camilo vai sorridente, mal teve tempo de abrir a porta, e apareceu-lhe Vilela)
Camilo diz: Desculpe, não pude vir mais cedo. O que houve?
(Vilela não responde, permanece apático, fez-lhe o sinal, e foram para o escritório.)
Camilo diz: NÃO! Não pode ser!
O corpo de Rita ensaguentado estendido sobre o tapete do escritório
(Vilela pegou-o pela gola, e, com dois tiros de revólver, estirou-o morto no chão.)
FIM
Gostei da forma como foi resumida a história e da organização do roteiro.
ResponderExcluirFiquei curioso para ver o vídeo.
Parabéns!
Não me pareceu muito original, mas consegue passar o enredo de forma saisfatória.
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